O luto é uma das experiências mais intensas que uma pessoa pode vivenciar ao longo de sua vida. A perda de um ente querido pode gerar uma série de emoções, e uma das reações mais comuns diante da morte é o choro. Mas o que a Doutrina Espírita tem a dizer sobre chorar por aqueles que já partiram? O Espiritismo, com base nos ensinamentos de Allan Kardec e outros estudiosos da doutrina, oferece uma visão profunda sobre o luto, o sofrimento e a maneira como devemos lidar com a morte e o desencarne de nossos entes amados.
A Morte e a Visão Espírita
Para o Espiritismo, a morte não é o fim da vida. A Doutrina Espírita ensina que o espírito é imortal e que o corpo físico é apenas uma veste temporária que o espírito usa para sua jornada evolutiva. Quando uma pessoa desencarna, ou seja, quando deixa o corpo físico, ela segue para o plano espiritual, onde continua sua evolução, aprendizado e desenvolvimento.
A morte, então, é vista pelo Espiritismo como uma passagem natural e necessária. Allan Kardec, no “Livro dos Espíritos”, afirma que a morte é uma transformação do espírito, uma mudança de estado, mas não um fim. A morte do corpo físico não interrompe a vida, mas apenas modifica sua condição. O espírito segue sua jornada, e muitas vezes, aquele que desencarnou encontra um novo sentido para sua existência no plano espiritual.
O Luto e o Choro: Por Que Sofremos?
Quando uma pessoa querida desencarna, o luto é uma reação natural. O choro é uma expressão de dor, de saudade e de despedida, sentimentos que surgem pela ausência física do ente amado. No entanto, o Espiritismo nos ensina que o sofrimento não é absoluto. A dor da separação, embora difícil, pode ser compreendida e aliviada com o entendimento das leis espirituais.

Allan Kardec, em sua obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, nos ensina que a dor tem um papel educativo e transformador. O sofrimento, quando bem compreendido, pode ser uma oportunidade de evolução, não só para o espírito desencarnado, que pode aprender com a sua partida, mas também para aqueles que ficam, que devem encontrar força para lidar com a separação e seguir adiante.
De acordo com o Espiritismo, o choro pela partida de um ente querido é compreensível, mas deve ser acompanhado de um entendimento mais profundo sobre a continuidade da vida no plano espiritual. O Espiritismo ensina que, embora o corpo físico tenha se ido, o espírito continua vivo, e é possível estabelecer uma conexão com ele através da prece, do pensamento positivo e da caridade. Isso alivia a dor do luto e ajuda na aceitação da perda.
O Choro é um Sinal de Apego?
O Espiritismo também nos orienta a refletir sobre o apego que sentimos pelos nossos entes queridos. O choro, em muitos casos, é uma expressão de apego material à pessoa que partiu, um apego ao corpo físico e à presença palpável do outro. No entanto, a Doutrina Espírita nos ensina que esse tipo de apego pode ser prejudicial, pois nos impede de entender que a verdadeira relação entre as almas não é limitada ao corpo físico.
Em “O Livro dos Espíritos”, Kardec afirma que os laços entre os espíritos não se desfazem com a morte, e que, muitas vezes, os espíritos continuam a se comunicar e a cuidar uns dos outros, mesmo após a desencarnação. Portanto, o choro pode ser visto como um reflexo do apego material, que deve ser superado para que possamos compreender melhor a imortalidade do espírito e a continuidade da vida além da morte.
Como Deveríamos Lidar com o Luto e o Choro?
De acordo com o Espiritismo, o luto deve ser vivido com serenidade e confiança. O choro, embora seja uma expressão legítima de dor, não deve ser prolongado de forma excessiva ou impedir que a pessoa siga em frente com sua vida. A Doutrina Espírita nos ensina que, embora a saudade e a dor pela partida de um ente querido sejam naturais, é importante também buscar o consolo espiritual, a compreensão da imortalidade do espírito e a confiança na continuidade da vida.
O Espiritismo sugere que, em vez de se apegar ao sofrimento, devemos orar pelos nossos entes queridos desencarnados, desejando-lhes paz, evolução e felicidade no plano espiritual. A prece, segundo a Doutrina Espírita, é um meio poderoso de comunicação com os espíritos e pode proporcionar alívio tanto para quem fica quanto para quem parte.
Além disso, Kardec enfatiza que, no plano espiritual, os espíritos que desencarnaram são acolhidos e guiados pelos espíritos superiores, que os ajudam a compreender a nova realidade e a se adaptarem à vida após a morte. O espírito desencarnado, por mais que sinta falta de seus entes queridos, encontra amparo e consolo no plano espiritual, e a dor da separação é gradualmente superada.
A Importância da Compreensão Espírita no Luto
O Espiritismo tem um papel fundamental na transformação da visão da morte e do luto. Quando entendemos que a morte não é o fim, mas apenas uma mudança de estado, podemos lidar com a dor da perda de forma mais equilibrada. O entendimento das leis espirituais nos permite enxergar a morte como um evento natural, parte do processo de evolução do espírito, e não como um acontecimento trágico e definitivo.
Chorar por quem já desencarnou é uma reação natural, mas a Doutrina Espírita nos ensina a não nos apegar à dor, a viver o luto com dignidade e a buscar o consolo espiritual. Através da prece, da caridade e do entendimento da continuidade da vida, podemos aliviar o sofrimento e nos conectar com os entes queridos que partiram, sabendo que eles estão em um processo de evolução e que a vida continua.
Conclusão
O choro por quem já desencarnou é uma reação humana natural, mas o Espiritismo nos ensina a lidar com a dor da perda de forma mais serena e espiritualizada. A compreensão da imortalidade do espírito e a confiança nas leis espirituais nos ajudam a enxergar a morte como uma transição necessária e não como um fim. Ao invés de nos prender à dor, devemos buscar o consolo nas preces e na certeza de que aqueles que partiram continuam vivos no plano espiritual, em processo de evolução. O luto, quando compreendido sob a ótica espírita, pode ser um momento de aprendizado e crescimento espiritual, tanto para os que ficam quanto para os que partem.

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